Quem é Adelio Bispo de Oliveira, o homem que deu a facada em Bolsonaro
Nos últimos 20 anos, algoz trabalhou muitas vezes sem carteira, mudou-se com frequência de cidade e já esteve em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Filho de uma funcionária do serviço de varrição da
Prefeitura Municipal de Montes Claros e de um gari, Adelio Bispo de Oliveira,
de 40 anos, deixou sua cidade natal pela primeira vez em 1995, quando tinha 17
anos. Desde então, e antes de ficar internacionalmente conhecido ao tentar
matar com uma faca o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) seus vestígios não
eram muito claros.
Nesses 23 anos, trabalhou poucas vezes com carteira assinada
ou em serviços que emitiam nota fiscal. Não era muito conhecido por seus
vizinhos, pois mudava-se com frequência para municípios de vários estados num
mesmo ano e para casas em bairros diferentes numa mesma cidade.
Seus rastros mais claros ficaram registrados em Santa
Catarina e em Minas ; em Uberaba e em Montes Claros. Uma rotina que por um lado
constitui um perfil baixo, ideal para um atentado por não deixar rastros ou
conexões. Mas que por outro pode ser o de uma pessoa perturbada e antissocial.
Em 2007, Adelio se filiou ao Psol, no diretório de Uberaba,
no Triângulo Mineiro. De acordo com sua filiação, ele trabalhava como servente
de pedreiro sem carteira assinada. Durante esse tempo há registros de imagens
dele se manifestando nas ruas contra a prefeitura administrada por Anderson
Adauto (2005 a 2009), que era do PL e posteriormente se filiou ao então PMDB.
Nesse período, segundo declaração do presidente do diretório
e candidato a deputado federal pelo Psol, José Eustáquio dos Reis, Adelio não
chegou a participar de reuniões expressivas, se mantendo mais em atividades nas
ruas. "Era uma pessoa comum. Não era assíduo nas nossas reuniões, mas não
aparentava ser alguém violento, que pudesse tomar uma atitude agressiva contra
alguém", disse o político.
Enquanto esteve em Uberaba, Adelio morou por curtos períodos
em muitos bairros, o que fazia com que sua vizinhança não registrasse bem seus
hábitos, tidos como os de uma pessoa normal, sem queixas da comunidade nem
problemas com a lei. Morou no Bairro Elza Amui, um local de periferia muito
próximo à BR-262 e ao limite urbano/rural do município, onde as residências são
em grande parte humildes, muitas delas de muros e paredes de tijolos sem
reboco.
Depois, morou também no Jardim Bela Vista, uma área na
porção norte do município, mais arborizada e também próxima à área rural, ainda
que mais perto do Centro, local que tem também muitos conjuntos habitacionais.
Por fim, informações deram conta de que viveu também no
Jardim Uberaba 1, o bairro mais humilde onde ele residiu, um local de casas de
acabamento mais precário, muitas sem reboco e às margens do Rio Uberaba, o que
as expõe a acúmulo de lixo, inundações e concentração de animais que infestam
águas poluídas por esgoto, como ratos e baratas. O local é repleto de
bota-foras, mas apesar da degradação, conserva uma população ainda de forte
ascendência rural.
Adelio depois ressurgiu em Santa Catarina, em 2009, quando
teve um passaporte emitido em seu nome, em setembro daquele ano, constando para
a Polícia Federal que seu endereço seria no Bairro de Itacorumbi, em
Florianópolis, local considerado de classe média. Essa, talvez, a mais estranha
movimentação de uma pessoa que apenas trabalhou em lugares de baixa remuneração
antes dos atentados.
Três anos depois, Adelio retornou a Montes Claros, no fim do
ano, quando esteve com parentes, ajudou no trato de sobrinhas e foi admitido
como garçom num hotel do Centro, em 9 de outubro de 2012. A passagem foi muito
rápida, sendo que ele próprio pediu demissão 31 dias depois, em 10 de novembro.
Funcionários que trabalharam com ele e pediram para não ter seus nomes
revelados, comentaram que o suspeito desempenhou bons serviços e não teve
qualquer tipo de incidente que o desabonasse.
No ano seguinte, Adelio retornou mais uma vez para Santa
Catarina, onde duas ocorrências policiais foram registradas contra o homem que
confessou ter esfaqueado Bolsonaro. Uma delas foi pela invasão de um canteiro
de obras, em Itajaí, e outro em Capivari de Baixo, por furto ; ele teria
surrupiado um cartão de ponto da obra em que trabalhava.
Naquele mesmo ano, ao voltar para Montes Claros, foi acusado
de ter arrombado um barracão no terreno de parentes. Segundo informações de
familiares, ele se refugiou por mais de um mês no local, chegando a brigar com
o cunhado por não ter pago a conta de luz ; fato que foi registrado pela
Polícia Militar em boletim de ocorrência. Em relatos, parentes disseram que,
apesar desse desentendimento, o pedreiro não apresentava comportamento violento
e vivia praticamente recluso quando no município norte-mineiro.
O vínculo com o Psol foi encerrado em 2014, pelo próprio
Adelio. Há especulações de que uma candidatura dele a deputado federal tenha
sido rejeitada, algo não confirmado pelo partido. No ano seguinte, a Justiça do
Trabalho catarinense registrou um processo em que o pedreiro ainda requer
vínculo empregatício com uma construtora por uma obra em Balneário Camboriú. Em
5 de julho de 2018, em São Carlos, também em Santa Catarina, foi registrada sua
entrada no mesmo clube de tiro que é frequentado pelos filhos de Bolsonaro
Carlos (vereador no Rio de Janeiro) e Eduardo (deputado federal por São Paulo).
Ele teve apenas uma aula, ao lado de um instrutor. Sua
última pista no estado apareceu nas redes socais, onde foi fotografado numa
manifestação contra o presidente Michel Temer, em Florianópolis. Depois disso,
Adelio foi a Juiz de Fora, onde se hospedou numa pensão no Centro por 15 dias
antes do atentado contra Bolsonaro. Ele pagou à vista e em dinheiro o adiantamento
de R$ 400 pelo quarto.
Passagem por Brasília
Adelio Bispo de Oliveira, autor do atentado contra Jair
Bolsonaro (PSL), esteve em 2013 na Câmara dos Deputados, em Brasília. A
informação foi divulgada pelo deputado federal Delegado Francischini (PSL),
principal articulador político da campanha do presidenciável, que afirma ter
obtido um levantamento que registra a entrada do agressor pela portaria do
Anexo IV, onde ficam os gabinetes dos parlamentares.
Pelo Facebook, o deputado informou que, em 6 agosto daquele
ano, Adelio entrou no prédio para uma reunião com um deputado federal, que não
foi identificado. ;Estou requerendo ao presidente (da Câmara) Rodrigo Maia uma
investigação para saber quem é o deputado;, disse. ;Vamos levantar o que
aconteceu naquele dia na Câmara para tentar saber o que levou Adelio lá;,
ressaltou. Francischini ainda afirmou que teve acesso a fotos do homem na
frente do Congresso, supostamente na mesma data.
FONTE
Estado de Minas – Correio Braziliense
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