O Sertão Virou Mar - A verdade sobre a transposição das águas do Rio São Francisco

Como surgiu a ideia da transposição das águas do Rio São Francisco para o Nordeste?

A ideia de transposição das águas do rio São Francisco remonta à década de 1840, no tempo do Império do Brasil sob o reinado de Dom Pedro II (FOTO). Desalentado com a seca que viu no Nordeste, o imperador dom Pedro II jurou: “Vendo a última joia da coroa, mas acabarei com esta calamidade.”

Os dois anos de estiagem que o Nordeste enfrentou – de 1844 a 1845 – motivaram o intendente da comarca do Crato, no Ceará, Marcos Antônio de Macedo (FOTO), a propor um projeto para trazer água do São Francisco para o seu estado.

Naquela época, não foi iniciado o projeto por falta de recursos da engenharia. Nos últimos 12 anos do Império, o parlamento brasileiro sempre recusou as propostas do imperador para a construção de um canal de transposição, alegando que tal idealização tratava-se de uma obra faraônica e de elevado custo.

O que é o atual "Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional"?

Trata-se construção de mais de 700 quilômetros de canais de concreto em dois grandes eixos (norte e leste) ao longo do território de quatro Estados (Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte) para o desvio das águas do rio São Francisco – a maior obra hídrica em construção no mundo. Com previsão de beneficiar 16 milhões e 500 mil pessoas de 540 municípios após as interligações através de 3.000 km de adutoras, o projeto prevê a captação de apenas 1,4% da vazão de 1 850 m³/s do São Francisco, dividida em dois eixos de transposição: Eixo Norte e Eixo Leste.

Eixo Norte: Constitui-se em um percurso de aproximadamente 400 km, com ponto de captação de águas próximo à cidade de Cabrobó, Pernambuco. As águas foram transpostas aos rios Salgado e Jaguaribe até os reservatórios de Atalho e Castanhão - que abastece a Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará; ao Rio Apodi, no Rio Grande do Norte; e Rio Piranhas-Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte, chegando aos reservatórios de Engenheiro Ávidos e São Gonçalo, ambos na Paraíba e Armando Ribeiro Gonçalves, Santa Cruz e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte.

Em Pernambuco, prevê-se a disponibilização de água para atender a demanda dos municípios banhados pelas bacias dos rios Brígida, Terra Nova e Pajeú, que compartilham a Bacia do São Francisco. Na região de Brígida, uma ramificação do canal de transposição com cerca de 200 km de extensão conduz parte das águas até os açudes de Entre Montes e Chapéu.

Eixo Leste: As águas deste eixo percorrerão a distância de 220 km, a partir da barragem de Itaparica, no município de Floresta (Pernambuco), alcançarão o rio Paraíba, na Paraíba, e deverão atingir os reservatórios existentes nas bacias receptoras: Poço da Cruz, em Pernambuco, e Epitácio Pessoa (Boqueirão), na Paraíba.

Ramificações serão construídas para transferir parte da vazão para as bacias do rio Pajeú, do rio Moxotó e para a região agreste de Pernambuco, através da construção de um ramal de 70 km que interligará o Eixo Leste à bacia do rio Ipojuca, o chamado Ramal do Agreste.

Por que a obra da transposição demorou mais de 13 anos para ser concluída?

Licitada em 2007, a obra das transposição foi iniciada no segundo governo Lula, em 2008, com a promessa de ser concluída em 2012. Em 2014, véspera de eleição presidencial, um novo prazo de término da obra foi novamente prometido para 2015. A nova promessa não foi cumprida mais uma vez e a obra ficou abandonada, com trechos dos canais destruídos. Ao final do governo Dilma apenas 15% da transposição estava em operação.

O fato é que nos governos de Lula e Dilma, a transposição foi descontinuada. Ficou durante anos paralisada e enfrentou denúncias de desvios e superfaturamento de recursos de mais de R$ 200 milhões.

PF investiga desvios de R$ 200 milhões na transposição do rio São Francisco

Contratos investigados chegam à casa de R$ 680 milhões

Do Portal R7 11/12/2015

Executivos de empreiteiras e do Governo Federal chegaram a ser presos pela Polícia Federal. Por conta dessas paralisações e abandono, trechos dos canais foram destruídos.

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Publicado em 11/12/2015

Em 2018, a obra foi retomada e, em 22 de fevereiro, a Segunda Estação de Bombeamento do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, foi inaugurada pelo presidente da República, Michel Temer.

O que foi feito no governo do presidente Bolsonaro

No governo Bolsonaro, após 2019, as águas do Velho Chico saíram de Pernambuco, estado doador, e chegaram ao Ceará. O caminho à Paraíba pelo Eixo Norte também só foi possível na gestão Bolsonaro.

O Ministério do Desenvolvimento Regional também iniciou uma nova fase, retomando o projeto original. Em 2021, foi entregue o Ramal do Agreste, em Pernambuco. Ainda no mesmo ano, o Ramal do Apodi, que atende Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Ramal do Salgado foi contratado em outubro de 2021. Obras que haviam sido excluídas do projeto em governos anteriores. O Ramal do Apodi/Salgado é o trecho final do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco e terá 115,3 quilômetros de extensão. A água será transportada por gravidade a partir do Reservatório Caiçara, na Paraíba, até o Reservatório Angicos, já no Rio Grande do Norte.

Finalmente, em 9 de fevereiro de 2022, as águas do Rio São Francisco, após percorrer mais de 3 mil quilômetros, chegaram pela primeira vez no Rio Grande do Norte. A profecia “O sertão vai virar”, atribuída, em 1897, ao beato Antônio Conselheiro em Canudos, e registrada pelo escritor Euclides da Cunha, no livro clássico “Os Sertões”, finalmente viria a se concretizar.

Fontes:

Wikipédia

https://pt.wikipedia.org/wiki/Transposi%C3%A7%C3%A3o_do_rio_S%C3%A3o_Francisco

Ministério do Desenvolvimento Regional

https://www.gov.br/mdr/transposicao-sao-francisco

Diário GM

https://www.diariogm.com.br/cultura/1808-nasce-marcos-antonio-de-macedo-o-filho-de-uma-india-que-se-tornou-cidadao-ilustre-de-jaicoz-para-o-mundo