Tradicional revista de economia, Exame mente e revela a decadência do Jornalismo brasileiro
Carlos Alberto di Franco: “O leitor não quer pagar pela
ideologia do jornalista”
O consumidor não quer pagar pela ideologia do jornalista;
quer pagar pela qualidade da matéria que ele produz
Houve um tempo no Brasil em que jornalistas eram escritores
– e o jornalismo se rendia à realidade, não o contrário. Sim, a frase é um
pouco exagerada: há belas exceções hoje em dia – mas a verdade é que são
exceções.
E a verdade mais verdadeira ainda é que nós simplesmente nos
esqueceríamos daquele “tipo” de jornalismo se não houvesse quem nos lembrasse
não só de que ele existiu, mas também de que nele está a salvação para os
veículos de comunicação. Não falamos de formatos, é óbvio, mas de essência.
Que se mudem as plataformas, mas não que se perca a essência,
que é entregar a verdade, de uma maneira enriquecedora, autoral – com
autoridade, portanto.
Carlos Alberto di Franco, 73, é um digno representante
daquele tempo e um ativo incentivador do que poderíamos chamar, usando a
expressão da moda, de “jornalismo-raiz”.
Ele é o tipo (raro) de pessoa com a qual você sempre sai de
um diálogo com a sensação de que deixou alguns centavos sobre a mesa e está
levando uma fortuna para casa.
Bacharel em Direito, Di Franco é especialista em Jornalismo
Brasileiro e Comparado, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra
(Espanha) e diretor-geral do Departamento de Comunicação do ISE Business School
(São Paulo).
Além disso, dá palestras e presta consultoria na área de
Comunicação e é colunista d’O Estado de S.Paulo, O Globo, Gazeta do Povo,
Estado de Minas, O Popular e diversos outros jornais brasileiros, o LIVRE entre
eles.
Nesta semana Carlos di Franco viaja às cidades espanholas de
Madri e Pamplona para visitar veículos de comunicação e aprofundar-se ainda
mais nos temas abordados no Master em Jornalismo oferecido pelo ISE. Antes da
viagem, ele concedeu esta entrevista ao LIVRE.
1. A imprensa brasileira está na UTI? Se sim, como ela foi
parar lá e como há de sair?
A política brasileira está sendo sacudida por uma mudança
cultural que, lá fora e aqui, está transformando e subvertendo antigas
estruturas de poder. Partidos e políticos tradicionais vão sendo substituídos
por outsiders. Modelos que prevaleceram por décadas entraram em colapso. O
fenômeno revela o esgotamento das ideologias dominantes e uma clara mudança do
pêndulo da História. Uma visão de mundo menos algemada pelo politicamente
correto e mais conservadora perde a vergonha de se apresentar como alternativa.
A mídia tem grande dificuldade de trabalhar com esta realidade disruptiva.
Precisa abrir-se mais. Ouvir os consumidores. A imprensa pode sair fortalecida,
se tiver a coragem e a firmeza de se reinventar.
2. O que mais falta à cobertura política hoje, em Brasília?
Três coisas: objetividade, análise e profundidade. A
cobertura de política está excessivamente centrada no show. Produz muita espuma
e pouca informação. Bolsonaro, com suas declarações polêmicas, está pautando a
mídia. Falta cobrir as políticas públicas. Falta mostrar ao consumidor o que,
de fato, está acontecendo. A Amazônia, por exemplo, entrou e saiu do
noticiário. Ninguém foi capaz de mostrar a realidade com objetividade e alguma
profundidade. Ficou uma cobertura contra o governo. Só isso. Como se as
queimadas tivessem sido produzidas de janeiro para cá.
O consumidor não quer ideologia e contrabando opinativo na
informação. Quer qualidade. Cobrir política é mostrar o que está errado, bater
no governo, no poder, sempre que necessário. Mas também é mostrar as coisas
boas que estão acontecendo. O consumidor não quer pagar pela ideologia do
jornalista. Quer pagar pela qualidade da matéria que ele produz. Quem não
entender isso, infelizmente, morrerá na praia.
3. Qual é a pauta mais urgente hoje, no Brasil?
A pauta urgente, para lá de urgente, é recuperar as boas
práticas do nosso ofício. A sociedade é pautada pelo trabalho jornalístico. Por
isso, a prioridade é recuperar e renovar o jornalismo. Só assim a sociedade
será renovada. Autor do mais famoso livro sobre a história do The New York
Times, Gay Talese vê importantes problemas que castigam a imprensa de
qualidade. “Não fazemos matéria direito, porque a reportagem se tornou muito
tática, confiando em e-mails, telefones, gravações. Não é cara-a-cara. Quando
eu era repórter, nunca usava o telefone. Queria ver o rosto das pessoas. Não se
anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê,
cara-a-cara, a pessoa com quem se está conversando”, conclui Talese. E o
leitor, não duvidemos, capta tudo isso. Nossa pauta é recuperar o brilho, o
talento e a integridade do jornalismo.
4. Quais as principais habilidades que as escolas de
jornalismo devem desenvolver em seus alunos?
Vou dizer algo que pode parecer abstrato, mas não é.
Estimular o exercício da liberdade. As pessoas estão anestesiadas pelo
politicamente correto. Perderam capacidade crítica e pensamento próprio. Chegou
a hora da liberdade. De formar as próprias ideias e assumir o desafio da vida.
Depois, pensar, refletir e, então, decidir. Para isso, é preciso recuperar o
gosto da leitura. O livro é a arma mais revolucionária da história. Ele
provoca, questiona e transforma. Em resumo: o papel da escola é formar um
cidadão culto, livre e com espírito de serviço. Isso pode mudar a cara do
Brasil.
5. A direita brasileira veio para ficar?
Eu não diria direita. As etiquetas são incapazes de refletir
realidades complexas. Eu falaria de um olhar conservador. As palavras foram
desprovidas de seu conteúdo original. A estratégia gramsciana deu um tiro de
morte na verdade. Conservador passou a ser sinônimo de ultrapassado,
obscurantista. Ao contrário, progressista é uma ode à modernidade, à justiça, à
liberdade. Será? Basta olhar para a realidade e ver que as coisas não são
assim. As republicas democráticas socialistas, ditas progressistas, eliminaram
as liberdades, mataram os sonhos, geraram privilégios de elites empoderadas. As
democracias capitalistas geraram liberdade, empreendedorismo e justiça efetiva.
Acho que o Brasil acordou para a necessidade de uma mudança. O País,
independentemente de quem está no poder, está reencontrando as suas raízes
genuínas. Isso, creio, veio para ficar.
Saideira. Um dia os robôs poderão substituir perfeitamente
os jornalistas?
Nunca. Os robôs podem – e devem – fazer uma parte expressiva
do trabalho. Mas nada superará o gênio humano. Hambúrguer cansa e causa tédio.
A boa culinária italiana, francesa, espanhola, ao contrário, humaniza e eleva.
Dá para entender, amigo leitor?
Fonte: Livre
https://olivre.com.br/carlos-alberto-di-franco-o-leitor-nao-quer-pagar-pela-ideologia-do-jornalista
Inscreva-se no “Canal Ivan Maurício”
no YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCaXe_35VYXjqd1B9jANaVDQ
Acesse o Blog Ivan Maurício: https://ivanmauricionoticias.blogspot.com/
Inscreva-se no “Ivan Maurício
Podcast” no Telegram.
Curta no Twitter: https://twitter.com/ivanmauricio
E no Facebook: https://www.facebook.com/ivan.mauricio.75
Comentários
Postar um comentário